No espelho eu vi o homem,
o mesmo que idealizei,
o mesmo com o qual sonhei.
No espelho eu vi o homem!
No espelho eu vi as rugas,
as mesmas que escondi,
as mesmas que resisti.
No espelho eu vi a rugas!
No espelho eu vi o rosto,
o mesmo que envelheceu,
o mesmo que era meu.
No espelho eu vi o rosto!
No espelho eu vi o cabelo,
o mesmo que embranqueceu,
o mesmo que desprendeu.
No espelho eu vi o cabelo!
No espelho eu vi Deus,
com a mesma semelhança,
com a alma de criança
visto aos olhos de Deus.
No espelho eu vi Deus!
PÍCARO
A infelicidade que existe em mim
se torna riso e eu rio,
faço-os rirem de meus trejeitos
e me conformo em ser o “Mário”.
Adorado por muitos pela alegria
e odiado por alguns pela ousadia.
Eu rio, mesmo que minh’alma sangre,
mesmo que o espírito grite de dor.
Uso palavras absurdas e engraçadas,
mostrando um patife cheio de amor.
Amado por algumas meninas
e condenado pelas guilhotinas.
O júbilo que está em minha face
não reflete o âmago febril.
Um íntimo aterrorizado pela dor,
pela feiúra, pelo meu feitio.
O rosto murcho e enrugado
é o retrato do pícaro enfeitiçado.
Muitas vezes consolei, precisando de consolo,
para aliviar a dor do outro, engoli a minha dor
e tantas vezes chorei de madrugada
sem ter ao lado um ombro consolador.
Riam de mim, eu mereço, eu sou ator.
Eu rio, dou gargalhadas e escondo a minha dor.
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